Serrador e Resineiro
O Serrador tem como função cortar os troncos de madeira e prepará-los para depois, os fornecer ao carpinteiro.
O resineiro faz a recolha da resina nas árvores adultas, através de um processo chamado “sangria” (foto). Para esta recolha o resineiro raspa com o machado uma pequena área na árvore, coloca a bica, o púcaro e aplica o ácido na area raspada. O pinheiro reage “sangrando”, ou seja, libertando resina. Com o púcaro cheio, utiliza-se a espátula para passar a resina para uma lata, nome dado ao recipiente de recolha geral. A resina é utilizada para vários fins: vernizes, colas, gomas, perfumes ou cremes. O material do resineiro aqui exposto é todo proveniente do Concelho de Soure, Coimbra.Carpinteiro – Marceneiro
Mestres no conhecimento da madeira, estes artífices trabalham a matéria prima para diferentes fins. O carpinteiro transforma as madeiras para a construção de telhados, forros, soalhos e escadas. O marceneiro especializou-se na arte da talha – técnica de corte e incisão utilizando um escopro, buril e cinzel, e no fabrico de mobiliário. Salientamos a importância de ambos os ofícios na expansão marítima e na produção artística portuguesa, sobretudo entre os séculos XVI e XIX.
Em destaque na exposição, o mestre João Veríssimo Gouveia, nascido em 1890, na aldeia do Toxofal de Baixo, Concelho da Lourinhã. Era carpinteiro, mas também executava trabalhos de marcenaria e até de tanoaria. Foi ele que construiu o banco de trabalho em exposição e algumas das ferramentas expostas apresentam a sua assinatura.
Tanoeiro
O tanoeiro desenvolve a sua atividade no fabrico de reservatórios para líquidos, como tonéis, barris, tinas, celhas, pipas e outros objetos cujos elementos chave são as aduelas (tábua encurvada) e os aros de metal. Sendo a Lourinhã um Concelho predominantemente agrícola, os produtores de vinho locais eram os principais clientes do tanoeiro. O carvalho era a madeira escolhida para o envelhecimento do vinho, pois a partir dela obtém-se uma ação anti-oxidante e intensidade aromática.
Os instrumentos em exposição pertenceram a José Maria Gomes da Silva. Nascido em Esmoriz a 30 de Abril de 1900, começou a trabalhar com 14 anos de idade na profissão de tanoeiro. Mais tarde, rumou ao Oeste onde passou pelo Bombarral, mas foi na Lourinhã que quis ficar, em 1923. Trabalhou até aos 85 anos, tendo falecido a 30 de Agosto de 1986.
Torneiro
O torneiro trabalhava essencialmente com o torno, aparelho de tornear a madeira. Sendo um ofício bastante especializado e dispendioso era procurado por carpinteiros e marceneiros, que não tinham poder de aquisição de um equipamento de tornear, recorrendo, por isso, a esta profissão.
Segeiro
A profissão de segeiro estava ligada, essencialmente, à construção e reparação de carroças. No entanto, dedicava-se também a trabalhos de ferreiro na reparação de algumas alfaias agrícolas, tais como charruas e enxadas.
Entre os objetos em exposição, há um que se evidencia pela sua imponência – o fole. Este instrumento tem a função de alimentar as brasas na forja, que por sua vez aquecem o ferro para, na fase seguinte, ser moldado. Outro objeto de destaque, este pela sua singularidade, é o livro de registos, onde podemos verificar, detalhadamente, não só o serviço prestado como quem o solicitou.
O acervo do segeiro pertenceu ao “Ti Remexido”, natural da Marteleira, Lourinhã. O desaparecimento do gado como animal de tração e a procura de maquinaria agrícola motorizada levaram à extinção desta profissão.
No entanto, o termo segeiro é pouco conhecido na Lourinhã, sendo ferreiro o mais comum. Alberto Remexido, ou como era carinhosamente chamado “Ti Remexido”, era morador nos Casais do Araújo- Marteleira, e aí tinha a sua oficina. Por curiosidade, é notório que em todas as povoações que tinham ferreiros, estes instalavam-se sempre à entrada da aldeia. Com o “Ti Remexido” a situação é a mesma, Casais do Araújo situa-se à entrada da Marteleira e junto ao caminho Lourinhã- Torres Vedras.
Oleiro
O oleiro é o artesão que trabalha o barro e o transforma nas mais variadas peças para as diferentes necessidades. Embora tivessem existido muito poucos mestres na arte de moldar o barro no Concelho da Lourinhã, esta atividade tinha a sua importância na produção de cerâmica utilitária, como as bilhas e os alguidares de barro. Destacam-se na exposição o regador de horta e o defumador.
As peças de olaria em exposição no Museu são de António Ferreira Gouveia, nascido no Toxofal de Baixo, em 25 de Março de 1857. Exerceu a profissão de Oleiro no início no Toxofal e, posteriormente, no Sobral, onde viria a residir depois de casar. Começou a trabalhar bastante novo e só terminou a carreira em idade avançada. Faleceu a 12 de Março de 1948 com 91 anos.
Cerâmica
A Fábrica da Cerâmica da Ventosa, A Balsa, localizada na freguesia de Santa Bárbara, Concelho da Lourinhã, foi fundada nos anos 20 do séc. XX. A produção principal com o barro vermelho era o tijolo e a telha para a construção civil como atestam os moldes que se encontram em exposição. Esteve em produção até ao final do séc. XX. Hoje, só existe a chaminé, protegida por lei.
Canteiro
O canteiro talhava as pedras, não só para as cantarias e soleiras das casas, como também fazia pias para animais, pedras de lagar, entre outros.
O planalto das Cesaredas, estrutura calcária de toda a zona Norte da Lourinhã, fornecia a matéria prima.
As casas típicas da maioria da região do Oeste, com as suas cantarias e soleiras em calcário bujardado (técnica de acabamento com pequenos picotados uniformes na superfície da pedra), mantinham os vários canteiros em atividade.
Foi a mecanização das ferramentas, com a evolução da indústria da pedra, que veio a alterar o trabalho do canteiro substituindo, praticamente, todo o trabalho que ele fazia à mão por máquinas elétricas.
botica
Antigamente, Farmácia chamava-se Botica. Era aqui que se preparavam e guardavam as diversas drogas e medicamentos, assim como a produção de pomadas, hóstias (percursores dos comprimidos) e supositórios.
Na coleção expõe-se um armário da antiga botica com algumas peças curiosas, como por exemplo as seringas e os objetos para a sua esterilização; na mesa um mostímetro utilizado na medição da graduação do vinho, trabalho este da competência do boticário a que os agricultores da região recorriam regularmente; ainda na mesa, um molde para fazer supositórios.
Os objectos deste acervo foram doados pela Farmácia Quintans.
Sapateiro
O sapateiro é uma das profissões mais antigas e ainda presente na sociedade. Durante muito tempo, era ele que fazia o sapato, mas com o evoluir dos tempos e o desenvolvimento da indústria do calçado, o sapateiro deixou de ter a função de os fabricar mantendo-se apenas como reparador em pequenas oficinas. Esta bancada, com os instrumentos, foi utilizada pelo Ti Luís “Sapateiro” até à sua reforma.
Alfaiate
O ofício de alfaiate era exercido, exclusivamente, por homens e a sua função consistia na execução de peças de vestuário masculino por medida. Embora, atualmente, extinto no Concelho da Lourinhã devido ao aparecimento dos pronto a vestir, em 1931, no Anuário Comercial de Portugal, contavam-se cerca de quatro alfaiates em atividade. Destacam-se, na exposição, a máquina de costura “Singer”, um ferro de engomar, uma tábua de manga, um brunidor que servia para assentar as costuras e ainda dois casacos entretelados e alinhavados.
Barbeiro
Barbeiro tem como principal função cortar o cabelo, fazer ou aparar a barba. Era habitual o ambiente nas barbearias ser reservado aos homens. Era também aos barbeiros que se recorria para algumas cirurgias menores, como arrancar os dentes. Trabalhavam ao domingo para assegurar a imagem em dia de missa.
A exposição do barbeiro centra-se na cadeira do Sr. Bernardino Anastácio, barbeiro durante 62 anos na Lourinhã.
Lavadeira, Costureira e Engomadeira
Estas três atividades eram efetuadas, exclusivamente, pelas mulheres, sendo a da Lavadeira reconhecida no filme “A Aldeia da Roupa Branca”, de Chianca de Garcia, com a atriz Beatriz Costa.
Os locais comuns para a lavagem de roupa podiam ser, na corrente do rio, nos lavadouros públicos (vulgarmente chamados “tribunal das mulheres”) ou na selha – recipiente de madeira em forma de vaso.
O rio que corre na Lourinhã é o Rio Grande e nas suas margens mais baixas eram efetuadas as lavagens. Um dos sítios seria junto à ponte que vai para o Bombarral. O lavadouro publico, localizava-se no Largo Anacleto Marques da Silva.
O trabalho da lavadeira extinguiu-se com a vulgarização das máquinas de lavar, contudo o da engomadeira e costureira ainda se mantêm, embora com a evolução natural dos instrumentos de trabalho.
Fotografo
A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em 1827, por Joseph-Nicéphore Niépce, numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo chamado betume da Judeia.
A máquina fotográfica com tripé, em exposição, é uma Gundlach-Manhattan Optical Co. Criterion View Camera. É constituída por um corpo principal em cerejeira, concertina em couro e sistema de focagem de pinhão e cremalheira. Lentes com 3 graduações. Utiliza placas com emulsão – 5×7; 6,5×8,5; 8×10.
Na Lourinhã, o primeiro fotógrafo foi Sr. Manuel Lourenço Luz e muitas das fotografias em exposição são de sua autoria.
Pirolitos
Os pirolitos são umas garrafas de bojo cilíndrico, demarcado por um gargalo cónico estrangulado com uma esfera no seu interior e que continham laranjada gaseificada.
A máquina que se encontra em exposição, tinha como função fechar a garrafa, sendo este o processo final. Após o enchimento, o braço onde se encaixa a garrafa sofria uma rotação dinâmica, levando a que o gás carbónico pressionasse fortemente a esfera de vidro contra a anilha de borracha que se encontra no gargalo da garrafa.
Os objectos desta exposição, já classificada como arqueologia industrial, faz referência à antiga fábrica de pirolitos e refrigerantes “Balá”. A primeira fábrica de refrigerantes pertenceu ao Sr. Sabino José Maria (Pina) e mais tarde ao Sr. José Maria de Carvalho. No Annuário Comercial de 1934, há referência à fábrica de Refrigerantes de Carvalho e Rocha, José Sabino Pereira Pina e Sabino José Maria. A sua localização era na Rua João Luís de Moura.
Esta bebida foi o deslumbre da pequenada quando, em garrafas partidas, conseguiam o berlinde para jogar. Isto nos anos 40, 50 e 60 (séc. XX).
Em 1961, surge uma legislação que proíbe a comercialização dos pirolitos, sustentada no motivo de a conceção da garrafa não garantir a eficácia na sua limpeza e desinfeção, tornando-se o seu uso prejudicial à saúde.
Amolador
A principal função dos amoladores, e na qual se destacavam como mestres, era afiar facas e tesouras, arranjar guarda-chuvas e colocar “gatos” (espécie de agrafos) em loiça partida. Além desta atividade a maioria dos amoladores tornou-se taberneiro.
O principal instrumento de trabalho era a roda de amolar, composta por uma estrutura em trapézio, onde está incorporada a roda e a pedra de amolar, tendo a particularidade de poder ser transportada como um carrinho de mão. No entanto, também se fazia acompanhar do apito ou gaita, que servia para atrair e chamar as pessoas para os vários trabalhos.
O mestre Sr. Garcia, natural da Galiza, Espanha, fixou-se na Lourinhã em 1955, executando a atividade de amolador. Mais tarde, abriu uma taberna na antiga praça, que era conhecida como a “Taberna do Espanhol”.
Ourives
Trata-se se uma actividade que, inicialmente, trabalhava a prata e eram denominados os prateiros. Com a abundância do ouro e prata nos reinados de D. Manuel I e de D. João V, surgiram novos ofícios; uns com a especialidade de lavrantes e outros com a de joalheiros e lapidários.(Joel Serrão, Dicionário de História de Portugal,1963)
Segundo a comunidade da Lourinhã, os ourives vinham de comboio pela linha do Oeste, oriundos da zona de Tocha, Mira e Febres, da zona Centro, e deslocavam-se a feiras e mercados de bicicleta com a tradicional caixa verde que continha relógios, ouro e óculos, estes tinham uma particularidade, eram de várias graduações para serem mostrados ao possível comprador que experimentava um a um, até que um lhe servisse.
Ainda hoje, na Lourinhã, se perguntarmos aos ourives com estabelecimento como foi a vida de ourives dos seus antepassados, verão que eles contam Histórias fantásticas sobre esta profissão.
Petrolino
A função do Petrolino era percorrer as aldeias do Concelho nas “voltas”, assim se chamava o percurso, constituídas pelo alvará, carroça, o macho, reservatórios, líquidos e produtos em armazéns ou cocheira, para vender azeite e petróleo, assim como sabão e aguardente.
O petróleo era originário da BP-Britum Petróleo e da Vacuumm, e o azeite era proveniente de Castelo Branco.
Esta atividade foi transmitida ao Sr. José Mateus da Lourinhã pelo Sr. Veríssimo de Poiares – Coimbra.
Por curiosidade, o petrolino era apelidado de “pitrólino” devido à expressão fonética local de “pitróile”. O objetivo para a compra do petrólio em quantidades mínimas era para a iluminação das casas através dos candeeiros a petróleo.
A extinção desta atividade, na década de 70 do séc. XX, deve-se à implantação da rede elétrica na zona e à venda de azeite engarrafado em mercearias locais.
Arreador
O arreador era aquele que cortava (arreava) os burros e gado muar. Do meio ventre para cima aparava as crinas e caudas e por vezes fazia padrões na garupa do animal com a tesoura (como demonstra a fotografia).
A tesoura mecânica de tosquia, em exposição, foi concebida pelo Sr. Luís “Anastácio”, do Seixal, Lourinhã.
Correeiro
O principal trabalho do correeiro era fazer arreios para os machos e mulas (gado muar), visto nesta localidade haver pouco gado cavalar. Os arreios eram feitos segundo as necessidades e poder de compra das pessoas. O trabalho era manual, à exceção do trabalho na máquina de costura.
Além dos arreios, também fazia correias, cabeçadas, o cabeção, a guizeira, a silha e o silhão; as rédeas e a coelheira.
Todo o trabalho do correeiro tinha o seu símbolo máximo em Setembro e Outubro, durante os Círios. Os machos, nestas festas religiosas de romagem a santuários, apresentavam-se todos engalanados, tentando cada um levar o melhor arreio possível.
Destacamos os mestres Sr. Francisco Alves, Sr. Ambrósio Prazeres de Andrade e o Sr. Victor Prazeres de Andrade.
Café
Centro de encontro das pessoas, sobretudo à noite, um dos primeiros cafés na Lourinhã chamou-se O Arcádia e, posteriormente, Café Nicola- ainda hoje em atividade.
Aqui jogava-se ao dominó e à “bisca”, ouviam-se as notícias da BBC durante a II Guerra Mundial pela voz de Fernando Pessa e mais tarde as primeiras transmissões televisivas. O transístor em exposição terá sido o primeiro rádio publico na Lourinhã localizado no Café Nicola.
Banda
A Lourinhã orgulha-se de ter uma longa e aclamada tradição musical. Dispondo, atualmente, de três bandas musicais, destaca-se a mais antiga – a Banda da Lourinhã da Associação Artística Musical da Lourinhã, fundada em 2 de janeiro de 1878 com a designação de Filarmónica Lourinhanense, sendo seu fundador o Maestro Sr. Anacleto Marcos da Silva.
Também a Banda Filarmónica da Sociedade Lírica Moitense, da Moita dos Ferreiros, fundada em 9 de agosto de 1925, tem aqui em exposição o seu estandarte. A mais recente é a AMA- Associação Musical da Atalaia, fundada em 1986, com registo desde 2007.
Bombeiros
A Associação dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã foi fundada em 1928, na sequência do movimento criado, no final do séc. XIX, por grupos de cidadãos com o elevado interesse na proteção civil de pessoas e bens.
Começaram a organizar-se em associações baseadas no voluntariado, que ainda hoje mantêm, sem fins lucrativos e ao serviço da comunidade. Em exposição a bomba “Magirus”, foi utilizada pelos Bombeiros Voluntários da Lourinhã.
Desporto
No desporto destacamos a Associação Sporting Clube Lourinhanense, fundado em 26 de Março de 1926.
Manga de Alpaca
Manga de Alpaca era o nome que se dava ao funcionário publico ou administrativo. Esta referência deve-se a uma proteção que se colocava por cima das mangas do casaco, entre os pulsos e o cotovelo, para não se sujar com a tinta do tinteiro. Eram feitas de fibra de alpaca e lã de merino, razão pela qual ficaram conhecidos por este nome.
Escola
Durante o Estado Novo (1933-1974) foram mandadas construir escolas primárias em todo o país, não só com o objetivo de aumentar a alfabetização da população, mas sobretudo formar uma consciência nacional baseada nos ideais do regime. Neste período, as turmas eram separadas entre rapazes e raparigas. Aprendia-se a escrever e a fazer contas na ardósia e o método de leitura era baseado na Cartilha Maternal de João de Deus.
Metrologia
Os pesos e as medidas em Portugal tiveram origem, como muitos dos seus nomes o demonstram, nas medidas romanas e árabes que se usavam na antiga Lusitânea, antes da fundação da monarquia (em 1143).
A necessidade de criar um sistema, que fosse o ideal, para as trocas comerciais nem sempre foi conseguido. A divergência nos costumes locais originava conflitos entre povoações e os senhores das terras tomavam a liberdade de alterar o valor das medidas, constituindo um obstáculo para o desenvolvimento do comércio.
É nas sucessivas cortes que se tenta estipular e uniformizar as medidas para todo o reino. Com as Ordenações Afonsinas (D. Afonso V – 1446) pretendeu-se não só estipular as aferições como também aplicar multas às falsificações. Com D.Sebastião (1575) introduzem-se novos padrões para as unidades de volume – alqueire para secos, almude para líquidos. Em 1816, D. João VI impõe novos padrões de medidas: mão-travessa para o cumprimento, canada para o volume e libra para o peso, e as medidas anteriores são abolidas.
Em 1875, Portugal participa na assinatura da “Convenção do Metro”.
As medidas que estão em exposição pertenceram à Câmara Municipal da Lourinhã.
Agricultura
Os traços de uma comunidade, assente nos usos e nos costumes transmitidos ao longo das gerações, revelam o testemunho de uma herança coletiva de um determinado local. No Concelho da Lourinhã a agricultura tem sido, desde a Idade Média à atualidade, a principal atividade económica e social, seguida da pesca e ambas são a matriz cultural que hoje conhecemos.
Revestido de parcelas agrícolas que desenham todo o território e vincam nele uma comunidade de forte cariz tradicional, a riqueza dos solos é aproveitada não só para a produção de cereais, leguminosas e frutícolas, como também se destaca na produção vitivinícola. As atividades agrícolas foram, até aos finais dos anos 60, executadas com o auxílio de alfaias e instrumentos oriundos de um sistema rural muito baseado em processos tradicionais e hoje são parte integrante da memória coletiva no nosso património cultural.
Produção Vitivinícola na Lourinhã
A Lourinhã encontra-se situada numa região em que a proximidade do mar e as caraterísticas do solo proporcionam a produção de vinhos de baixo teor alcoólico, como os vinhos leves e, particularmente, na produção de aguardentes vínicas, cujas qualidades são reconhecidas desde meados do século passado.
Até ao terceiro quartel do século XX, no Concelho da Lourinhã, predominava a cultura vitícola com significativo impacto económico, razão pela qual é fundada a Adega Cooperativa da Lourinhã em 1 de maio de 1957, data da aprovação dos estatutos, sendo confirmada por alvará no dia 6 de junho do mesmo ano.
Mais tarde, por Decreto-Lei de 34/92 de 7 de março, é constituída a Região Demarcada de Aguardente Vínica da Lourinhã com a Denominação de Origem Controlada – DOC. É a primeira e única região demarcada do país para a produção de aguardentes de excelente qualidade e uma das três no espaço europeu, a par da França com as conhecidas aguardentes Armagnac e Cognac.